Percepção durante a prática de Yoga

Achamos que a inteligência e a percepção ocorrem exclusivamente no cérebro, mas a ioga ensina que eles devem permear o corpo. Cada parte do corpo deve literalmente ser tragada pela inteligência. Devemos casar a percepção do corpo com a da mente. Quando as duas partes não cooperam, ambas ficam infelizes. Isso produz uma sensação de fragmentação e doença.

Hoje em dia as pessoas usam tão pouco o corpo que perdem a sensibilidade da percepção corporal. Saem da cama para o carro, do carro para a mesa de trabalho, da mesa de trabalho para o sofá, do sofá para a cama, sem nenhuma percepção dos movimentos, sem nenhuma inteligência. Não há ação. Ação é movimento com inteligência. O mundo está repleto de movimento. O que ele precisa é de mais movimento consciente, mais ação. A ioga nos ensina a infundir inteligência aos movimentos, transformando-os em ação. De fato a ação que se introduz num ásana deve atiçar a inteligência, ao passo que, em geral, apenas a mente é atraída e instigada pelo movimento. Um exemplo disso é quando você fica arrebatadamente preso a uma partida de futebol. Isso não é ioga; ioga é quando você inicia uma ação no ásana e, se em algum outro lugar do corpo algo se move sem sua permissão, a inteligência questiona e pergunta: "Isso está certo ou errado?" Se está errado como posso fazer para corrigi-lo?"

Como desenvolver essa inteligência no corpo? Como aprender a converter movimento em ação? Esse aprendizado começa no ásana. Desenvolvemos uma sensibilidade tão intensa que cada poro da pele funciona como um olho interno. Ficamos sensíveis à interface da pele com a carne. Dessa forma, nossa percepção se espalha pela periferia do corpo e pode sentir-se, em determinado ásana, o corpo está alinhado.Com a ajuda desses olhos, você pode corrigir e equilibrar suavemente o corpo, de dentro para fora. Isso é diferente de ver com seus dois olhos normais. Na verdade, você está sentindo, está percebendo a posição do seu corpo, Quando fica na postura do guerreiro, com os dois braços estendidos, você vê os dedos da mão à sua frente, mas também pode senti-los, pode perceber sua posição e sua extensão bem na ponta dos dedos. Além disso, pode atentar para a posição da perna de trás e saber se ela está reta ou não, sem olhar para trás ou num espelho. Você deve observar e corrigir a posição do corpo (ajustando-o dos dois lados) com a ajuda dos trilhões de olhos que são as células. É assim que se começa a trazer percepção ao corpo e fundir a inteligência do cérebro e a do músculo. Essa inteligência deve habitar todas as partes do corpo durante todo ásana. No momento em que você deixa de sentir a pele, o ásana se torna tedioso, e o fluxo ou corrente de inteligência se perde. 

A percepção sensível do corpo e a inteligência do cérebro e do coração devem estar em harmonia. O cérebro pode instruir o corpo a fazer uma postura, mas o coração também precisa senti-la. A cabeça é a sede da inteligência; o coração é a sede da emoção. Ambos precisam trabalhar em cooperação com o corpo.

Trecho extraído do livro: "Luz na Vida". Autor: B. K. S. Iyengar