Na dúvida, Respira...

(...) Ao reter a respiração após expirar, podemos acalmar e aquietar a mente e as emoções. A expiração esvazia o cérebro e pacifica o ego, trazendo-lhe uma serena humildade.

Quando esvaziamos o cérebro, também despejamos as toxinas da memória. Com a expiração e a retenção, liberamos o ressentimento e a raiva, a inveja e o rancor. A expiração é um ato sagrado de entrega, de renúncia. Ao mesmo tempo, abandonamos todas as impurezas armazenadas que se grudam ao Eu – ressentimentos, raivas, arrependimentos, desejos, invejas, frustrações, sentimentos de superioridade e inadequação e, também, a negatividade que faz os obstáculos aderirem à consciência. Quando o ego recua, elas recuam com ele. É claro que retornam, mas a lembrança da experiência de paz serve para atestar que esses obstáculos não são insuperáveis; podemos nos desvencilhar e desfazer deles. Não são permanentes nem fazem parte da consciência, são enfermidades que podem ser curadas. Carregamos muita toxina na memória, sentimentos que guardamos e deixamos estagnar e apodrecer. Estamos tão acostumados a transportar esse saco de lixo por aí que passamos a acreditar que ele é parte e parcela do nosso caráter.

Existe algo chamado expiração “com eco”, que reforça ainda mais meu argumento. Expire lentamente, soltando todo ar. Pare. Expire de novo. Há sempre algum resíduo que permanece nos pulmões. Nesse resíduo está a borra da memória tóxica e do ego. Nessa curta expiração posterior, solte-a – e sinta um estado de alívio ainda maior, de paz e vazio. Na inspiração experimentamos a individualidade plena, o potencial humano realizado a erguer-se como uma taça cheia de oferenda à divindade cósmica. Na expiração, sentimos o Eu esvaziado, o vazio divino, o nada completo e perfeito, a morte que não é o fim da vida. Tente. Expire lentamente, soltando todo o ar. Pare. Expire de novo.

Vejamos um exemplo prático de como a expiração ajuda a acalmar a inquietação e vencer o pesar. Quando alguém recebe uma notícia que lhe causa choque ou desgosto, dizemos “Respire fundo”. O motivo disso é que a inspiração profunda produz uma expiração total, também profunda, o que tem o efeito de acalmar e aquietar a pessoa aflita.

Então pessoal, na dúvida RESPIRA.....

Trecho do Livro: Luz na vida, B.K.S. Iyengar