O ásana e o pranayama revelam de que maneira o pensamento involuntário nos rouba o equilíbrio. Veja o exemplo de Ardha chandrasana (postura da meia lua), em que no equilibramos numa única perna, enquanto a outra permanece na horizontal e o braço se estende para cima. Estamos ali equilibrados, mas, no instante em que surge o pensamento "Que maravilha, consegui!", oscilamos ou caímos. Só com a mente quieta conseguimos nos manter na postura. Do mesmo modo, no pranaiama, vemos como interagem a respiração e a consciência. Qualquer distúrbio ou irregularidade numa delas cria uma contrapartida na outra. Quando a respiração está calma e a atenção se focaliza no movimento interno, a consciência não é sacudida por estímulos externos. Igualmente, se a consciência está tranquila e estável, a respiração se move com ritmo. Nos dois sentidos, a mente é receptiva e passiva, já não busca avidamente distração ou entretenimento. Assim ela fica livre para que sua atenção gravite na direção do nível mais profundo da consciência, no fundo do lago. Geralmente, esse nível se apresenta como inconsciente, já que nenhuma onda pode se erguer e nos apanhar de surpresa. Não há mistério aqui. Trata-se de treinamento, autodisciplina. Se aprendermos reflexão e correção no equilíbrio, de tal modo que seja possível detectar qualquer movimento ou alteração e descobrir sua origem, teremos adquirido a sensibilidade que leva ao autoconhecimento - ao limiar da sabedoria. O pensamento será para nós um processo deliberativo, útil e necessário, um grande dom e talento, muito diferente do pensamento que se manifesta como uma perturbação sem sentido, um falatório vazio, um rádio que não podemos desligar; e diferente também do pensamento que vem como uma forma sutil de interferência do passado, um mecanismo de auto-sabotagem alojado na memória inconsciente.
Texto: livro "Luz na Vida".
B.K.S. Iyengar
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